Todos nós vivemos rodeados pela ideia de que temos de ser pais perfeitos. Ouvimos histórias, partilhamos experiências, observamos os que nos rodeiam e devoramos livros na ânsia de encontrarmos os ingredientes ideais para assumir a parentalidade de uma forma competente e responsável.
Rapidamente antecipamos estratégias, planeamos atividades e tomamos decisões que consideramos serem as melhores para que os nossos filhos cresçam e se desenvolvam de forma saudável e feliz! E se já somos invadidos por muitas incertezas nas decisões mais concretas da educação de um filho, as inseguranças tendem a aumentar perante os desafios do quotidiano, que são impossíveis de antecipar e inerentes às características individuais de cada criança.
Não existem ingredientes certos para a educação de uma criança! Não existem pais perfeitos! Nem sequer existem crianças perfeitas! E reconhecê-lo talvez seja o primeiro passo para viver a parentalidade de uma forma positiva.
A parentalidade é um processo contínuo de crescimento dos pais na relação com a criança, em que as experiências positivas se transformam em ferramentas úteis e os insucessos se convertem em importantes aprendizagens na arte de educar. É através da interação com a criança que os pais acedem às características individuais da criança e adquirem um maior conhecimento sobre si próprios na qualidade de pai ou mãe, isto é, identificam as suas potencialidades, confrontam as suas fragilidades e reconhecem os seus limites.
E é neste processo de conhecimento de si e do outro que os pais adquirem a capacidade de abandonar estratégias ineficientes e de encontrar outras que se adequem melhor a si próprios e à criança, aceitando que nos insucessos pode residir a oportunidade de ensinar a criança a aceitar as suas próprias fragilidades, a regular as suas emoções e a adquirir a flexibilidade necessária para gerir melhor as situações com que se confronta.
Talvez possamos substituir o conceito de perfeição pelo de sensibilidade, tolerância e equilíbrio. Sensibilidade pela necessidade de os pais compreenderem e aceitarem o temperamento e desenvolvimento específico da criança, de analisarem em permanência o significado das reações emocionais e dos comportamentos manifestados por ela e de os enquadrarem nas suas próprias reações.
Equilíbrio pela necessidade de aceitarem as limitações da criança ao mesmo tempo que a incitam a utilizar o seu potencial máximo, pela importância de estabelecerem limites sólidos e consistentes nas decisões que assumem ao mesmo tempo que a estimulam a assumir pequenas decisões e responsabilidades, pela necessidade de lhe fornecerem suporte, proteção e segurança ao mesmo tempo que lhe conferem a liberdade para explorar e eventualmente falhar, pela importância de lhe proporcionarem experiências positivas e gratificantes ao mesmo tempo que lhe estabelecem limites que poderão provocar zanga e frustração, entre outros.
E é certo que neste processo recaem sobre os pais muitas dúvidas pela incerteza das consequências que advêm das decisões que tomam, que ora são acertadas, ora são precoces, ora são tardias, e de forma tão diferente para cada criança. Não há mesmo como ser perfeito!
Bárbara Coelho
Psicóloga Clínica